Coexistência

Sabe aquele balanço de praça que brincávamos quando criança? Para a brincadeira acontecer tinha aquele vai e vem, hora no alto, hora no baixo. Mas me lembro que algumas vezes esse movimento estancava quando uma criança queria deixar a outra de "castigo". Isso reflete muito a nossa vida adulta quando decidimos nos posicionar radicalmente sobre algo: isso é bom, aquilo é ruim. Nos juntamos a quem está embaixo e sentenciamos quem está em cima. Damos um "gelo".

Dizer que uma pessoa é "de bem" e a outra "do mal", que uma situação é totalmente péssima e que a outra é absolutamente excelente, é não entender que ninguém é 100% bom e ninguém é completamente maldoso, assim como há coisas boas em uma situação ruim e coisas ruins em uma situação aparentemente perfeita. Segundo o taoísmo, nada existe em seu estado puro, basta analisar o símbolo do yin-yang: os dois coexistem para formar a realidade. Se tirarmos um, o outro deixa de fazer sentido, assim como no balanço, só há brincadeira quando tem ao menos duas pessoas em lugares opostos.

O importante é sabermos conviver, que haja pessoas do "outro lado" para nos mostrar que não existe apenas a nossa realidade, que precisamos estar abertos para ouvir, aceitar e, até por que não, pensarmos de uma outra maneira. Esse movimento pode e até deve acontecer internamente, sem nos prendermos a uma única verdade.

Deixar as pessoas e as situações livres de juízo de valor é buscarmos um centramento, aceitando as diferenças. É difícil? Claro que é, somos mestres em apontar o certo e o errado, sem dar espaço para o que está no meio termo. Sendo que é nesse lugar que se encontra o eixo, entre um lado e o outro, onde o balanço acontece, onde gera o movimento. Porque a vida é isso, não é mesmo? Um vai e vem até encontrarmos o nosso lugar, aquele em que nos sentimos equilibrados, contemplando tudo e todos que estão ao nosso redor.